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Mas, afinal, por que um blog sobre Psicanálise?

  • Foto do escritor: Circular Psicanálise
    Circular Psicanálise
  • 26 de set. de 2024
  • 4 min de leitura

Atualizado: 1 de out. de 2024

Por: Geovanna Duarte


Antes de responder a essa pergunta, parece útil que respondamos – resumidamente e de forma simplista – a uma questão anterior: o que é a Psicanálise?


Basta navegarmos por pouco tempo no Instagram para nos depararmos com Psicanálise misturada com Constelação Familiar e até mesmo com Terapia Cognitivo-Comportamental. Não que haja apenas uma psicanálise ou que ela seja a única via de tratamento eficaz, mas é importante que saibamos diferenciá-la de outras abordagens, para que se fale em nome dela de forma ética e coerente.


O que é a Psicanálise?


Em tempos nos quais a Psicanálise foi nomeada como “bobagem” pela bióloga Natalia Pasternak, em seu livro Que Bobagem!: pseudociências e outros absurdos que não merecem ser levados a sério – apesar de não ser a primeira nem a última vez que a Psicanálise foi alvo de críticas – faz-se importante localizar o que é a Psicanálise quando falamos dela. Freud, seu criador, percebeu ao longo de seu percurso que sua teoria poderia ser rechaçada por muitos. Ele supunha que talvez isso ocorresse, inclusive, por resistências emocionais, considerando que muitas críticas eram pautadas em informações insuficientes (FREUD, 1923 [1922]). Logo, é compreensível que, ainda nos dias atuais, ela seja vista com resistência, já que, desde seus primórdios, assim foi, marcando, portanto, sua história e construção.


Em seu texto Dois Verbetes de Enciclopédia, Freud aponta que “a melhor maneira de compreender a Psicanálise ainda é traçar sua origem e evolução” (FREUD, p. 253, 1923 [1922]). Neste texto, ele enfatiza os primórdios da Psicanálise, mencionando seu encontro com Breuer e os estudos posteriores sobre a histeria – um mal-estar muito presente em sua época, no qual, majoritariamente, mulheres sofriam de sintomas físicos não explicados pela medicina. A partir desse encontro, propuseram-se, através da hipnose, a investigar as neuroses e seus desdobramentos. Para Freud, as neuroses eram "distúrbios psicológicos" derivados de conflitos inconscientes. No entanto, o método hipnótico se mostrou inviável, pois perceberam que, embora os sintomas histéricos desaparecessem através da hipnose, isso ocorria apenas na presença do médico, sugerindo que seus efeitos poderiam ser ineficazes (FREUD, 1923 [1922]).


A partir de então, a Psicanálise desenvolveu sua própria técnica – com uma única regra técnica fundamental: a associação livre. Pedia-se ao paciente que falasse o que lhe viesse à cabeça, por mais que os pensamentos fossem desagradáveis, absurdos ou parecessem irrelevantes. Desse modo, o inconsciente poderia ser acessado pelo psicanalista, que estaria em uma posição de escuta por meio da atenção flutuante – sem se apegar a pontos específicos, mas “navegando” no discurso do paciente.


Com a aplicação dessa técnica e a investigação da vida onírica por meio da Interpretação dos Sonhos, Freud percebeu que os processos psíquicos inconscientes não se davam apenas nos chamados “neuróticos” da época, mas também nos ditos normais. Ao utilizar essa técnica, o objetivo era acessar o inconsciente e, com isso, promover a dissolução de sofrimentos psíquicos a ele relacionados. Freud ressaltava que a Psicanálise jamais foi construída com a intenção de ser a única via de cura possível, como uma panaceia, mas que ela se direcionaria e trataria certos tipos de sofrimentos que, até então, outras ciências não conseguiam tratar de forma permanente (FREUD, 1923 [1922]).


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Sigmund Freud (1856-1939)


Após Freud, muitos outros teóricos partiram de sua teoria e construíram suas próprias, o que nos leva a pensar em Psicanálises, e não apenas em uma única Psicanálise.


Leite cita Freud em seu livro, apontando que ele considerava que “[…] a psicanálise é um procedimento de cura para aqueles que não encontraram, em outros tratamentos, um alívio significativo para seus sofrimentos” (p. 13, 2022). No entanto, para que isso seja possível através da Psicanálise, esse sofrimento precisa advir de problemáticas inconscientes. Logo, outras vias possíveis de tratamento fracassariam diante desse mal-estar. Diante disso, a análise oferece um espaço de fala e escuta, no qual, a partir dessas trocas, o analista, em sua função, conduzirá o manejo clínico (LEITE, 2022).


Mas a Psicanálise não é apenas uma via de tratamento clínico para os sofrimentos humanos; é também um método interpretativo e uma teoria. Portanto, é uma forma de entender o mundo à nossa volta: a compreensão da psique, das relações sociais e da vida em sociedade, dos fenômenos culturais e políticos, dentre outras tantas esferas da experiência humana. E isso responde à primeira pergunta feita: Por que um blog sobre Psicanálise?


Por que um blog sobre Psicanálise?


A Psicanálise pode se entrelaçar com muitas temáticas da experiência humana. Falar a partir dela nos permite pensar de forma interessante e complexa sobre muitas questões que atravessam nossa existência.


Aqui, compartilharemos como a Psicanálise atravessa nossa vida, não somente em nível pessoal, mas também profissional, com o intuito de difundir o que temos construído a partir dela até aqui e além. Também desejamos refletir sobre as questões que trazemos, dividindo saberes, experiências e angústias com quem nos acompanhar, pois esse percurso não precisa ser solitário! Além disso, considerando que a formação em Psicanálise não tem fim (tema para outro texto do blog!), temos o objetivo de seguir construindo nosso percurso com nossas escritas, buscando escutar os efeitos delas em nós! Que esses efeitos não parem em nós e que possam atravessar vocês também!


Referências:


FREUD, Sigmund. Obras Completas. Vol. XVIII: Além do Princípio do Prazer, Psicologia de Grupo e Outros Trabalhos (1920-1922). Tradução de Eudoro Augusto Macieira de Souza. Rio de Janeiro: Imago, 2006.


LEITE, Marco Correa. Psicanálise Clínica: primeiros passos. Bom Despacho: Literatura em Cena, 2022.


 
 
 

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