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Metas para o próximo ano: caminhos ou gaiolas?

  • Foto do escritor: Circular Psicanálise
    Circular Psicanálise
  • 10 de jan.
  • 3 min de leitura

Por: Geovanna Duarte


Quem nunca fez uma lista de metas na virada do ano, pensando no ano seguinte, que "atire a primeira pedra"!


Em nossa existência, somos atravessados por uma série de simbologias e ritos de passagem: casamento, formatura, virada de ano, e assim por diante. Essas simbologias dão forma ao social e à nossa cultura, sendo fundamentais para a estruturação de nossa subjetividade. Entre essas simbologias, a virada de ano ocupa um lugar interessante, por ser muitas vezes acompanhada pela elaboração de "metas" e "resoluções". Essa travessia carrega a expectativa de um novo começo, mas também pode ser atravessada por pressões internas e sociais que revelam algo sobre nossos desejos e nossos limites.


As metas são importantes e norteiam o que queremos fazer, logo, não se trata de simplesmente abandoná-las ou apenas criticá-las. Mas é essencial que tenhamos um olhar crítico diante delas. Através dessas metas, muitas vezes, tenta-se alcançar a "completude" ou, quiçá, a "perfeição". No entanto, a psicanálise nos ensina que a falta é constitutiva do sujeito e que nunca poderemos dar conta de tudo, muito menos sermos perfeitos. O que não significa, é claro, que não possamos tentar fazer o melhor que podemos. A beleza, talvez, esteja aí: em aprender a viver com a nossa falta, perceber nela o motor do nosso desejo e seguir buscando, sem ilusões de perfeição, aquilo que nos move.


Retomando Sigmund Freud, ele construiu os conceitos de Ideal do Eu e Eu Ideal. São conceitos que se entrelaçam com o que estou querendo dizer nas reflexões que me propus aqui! De forma bem resumida, o Eu Ideal trata-se de uma imagem idealizada que criamos sobre nós mesmos, baseada em tudo aquilo que gostaríamos – ou entendemos que deveríamos – ser. Envolve, por vezes, modelos de perfeição, fantasiosos e inatingíveis, que são construídos ao longo de nossa história, a partir da leitura que fazemos sobre nós e o mundo à nossa volta e o que supomos que esse mundo espera de nós. Em contrapartida, existe também o Ideal do Eu, que seria uma instância psíquica que avaliaria e compararia o que de fato somos com esse modelo construído através do Eu Ideal. Essa instância muitas vezes gera uma série de cobranças e exigências a nós mesmos, podendo, inclusive, culminar em culpa ou insatisfação quando há um descompasso entre o real e o ideal.


Se entendemos que há uma falta estrutural e, portanto, não seremos completos nem perfeitos, devemos refletir sobre o quanto o Ideal do Eu pode trazer efeitos devastadores se nos colocarmos na posição de corresponder a ele, sem reconhecer essa dinâmica. E, ao articulá-lo com nossa cultura, que promove a ideia de que devemos produzir a todo momento e a todo custo, sendo a "melhor versão de nós mesmos", podemos concluir que nos deparamos com muitos momentos de angústia.


Portanto, te convido, não a abandonar as metas como se elas fossem as vilãs, mas a olhar para estas de forma menos rígida, acolhendo as suas faltas e reconhecendo que não se trata apenas de dar conta de tudo de maneira correta e perfeita, mas sobre poder encontrar caminhos possíveis dentro de seus próprios limites! Claro, devo advertir que isso não é tão simples assim… Até mesmo porque estruturalmente também somos tentados a preencher a falta ainda que saibamos – em alguma medida – que pode ser que não alcancemos a perfeição e a completude. Saber não faz com que isso deixe de insistir. Mas isso é tema para outro texto! Seguimos...

Referências:

FREUD, S. Introdução ao narcisismo. In: ______. Introdução ao narcisismo; ensaios de metapsicologia e outros textos (1914-1916). São Paulo: Companhia das Letras, 2010


 
 
 

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