O complexo de Édipo na psicanálise e os tempos de constituição do sujeito
- Circular Psicanálise

- 10 de jun.
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Atualizado: 11 de jun.
Por: Lucas Nogueira
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Quem conhece ou estuda a psicanálise, provavelmente, deve ter se deparado em algum momento com a expressão “complexo de édipo” ou “édipo”, sendo este um tema que perpassa por toda a teoria. É bem verdade que o Édipo tem um lugar central na clínica e na teoria psicanalítica, porém, vale repensarmos como esse complexo foi sendo tomado pelos psicanalistas ao longo dos anos.
Neste contexto, ressalto que o Édipo que abordarei aqui trata-se daquele concebido nas concepções de Freud e Lacan, portanto, esse texto limita-se apenas a um recorte pequeno e sintético sobre um assunto muito vasto e denso dentro do campo clínico e teórico na psicanálise. Sendo assim, vou tentar resumir aqui a definição de complexo de Édipo para Freud, e em seguida, como Lacan retomou a temática partindo de outra perspectiva.
Não encontramos na obra freudiana um texto exclusivamente dedicado à teorização do complexo de Édipo, porém, em uma carta de Freud à Fliess, datada em 15 de outubro de 1897, o autor considera que cada pessoa foi, um dia, um édipo em potencial na fantasia. A partir disso, ele passa a universalizar o Édipo, e faz dele (do mito de Sófocles) um acontecimento universal do início da infância.
Desse modo, Freud passa a desenvolver toda sua teoria da sexualidade chamando de complexo de Édipo todo o período da infância até a fase de escolha objetal sexual de cada sujeito. Toda a trama parental junto às primeiras experiências de cuidado que cada criança teve com as pessoas que ama, serão fatores importantes para a travessia do Édipo e formação de sua identidade sexual.
No entanto, para o psicanalista Jacques Lacan, o Édipo vai ser pensado a partir de outro paradigma na teoria psicanalítica. Não se trata de uma história universal que acomete toda e qualquer pessoa na infância, segundo o autor, mas sim o que Freud nos ensina é que o Édipo deve ser tomado a partir de uma estrutura mítica que organiza e ordena a constituição de cada sujeito numa lógica temporal, partindo da noção de falta primordial.

Sendo a falta a primazia da psicanálise lacaniana, o que temos agora é um Édipo pensado em três tempos lógicos, onde o que importa é como cada sujeito simboliza suas primeiras experiências de perda de objeto amoroso (frustração – privação – castração). Aqui, cada um desses tempos marca cada sujeito de forma singular, juntamente com os significantes que o antecedem, e as significações recebidas através de quem cumpriu as funções parentais na infância.
Em tempo de concluir, vale sublinhar a dimensão simbólica do Édipo, pois o que sua estrutura nos garante é compreender que cada sujeito envereda seu drama familiar e complexo, a verdade de sua história, de uma forma mítica. Isso quer dizer que somos seres fundados a partir de um enredo e/ou de um lugar que nos foi destinado a partir do(s) outro(s) e que, por vezes, nada queremos saber - esta é a tragédia.
Referências
FARIA, Michele Roman. Constituição do sujeito e estrutura familiar: O Complexo de Édipo de Freud a Lacan. Taubaté-SP: Cabral Editora e Livraria Universitária, 2003.
FREUD, Sigmund. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, análise fragmentária de uma histeria (“O caso Dora”) e outros textos (1901-1905): Obras completas, volume 6. São Paulo: Companhia das letras, 2016. Tradução: Paulo Cesar de Souza
LACAN, Jacques. O seminário, livro 4: a relação de objeto (1956-1957). Rio de Janeiro: Zahar, 1995. Tradução: Dulce Duque Estrada.
LACAN, Jacques. O seminário, livro 5: as formações do inconsciente (1957-1958). Rio de Janeiro: Zahar, 1999. Tradução: Vera Ribeiro.
MASSON, Jeffrey Moussaieff (ed.). A correspondência completa de Sigmund Freud para Wilhelm Fliess 1887-1904. Rio de Janeiro: Imago, 1986. Tradução de Vera Ribeiro.
SOFOCLES. Édipo Rei. In: SOFOCLES. A trilogia tebana: Édipo rei, Édipo em Colono, Antígona. Rio de Janeiro: Zahar, 1990. p. 17-97. Tradução Mário da Gama Cury.




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