O que é a psicanálise e para que ela serve?
- Circular Psicanálise

- 26 de set. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 1 de out. de 2024
Por: Lucas Nogueira
Uma vez ouvi de um psicanalista nas redes sociais, de que a psicanálise não servia para muita coisa. Num primeiro momento, fiquei perplexo com a resposta dele, mas, após certo tempo entendi que ele tinha razão. A psicanálise pode não servir para nada. Explico.
Quando falo aqui da psicanálise, digo a respeito do método de tratamento inaugurado por Freud, que tem por objetivo investigar o inconsciente, encontrar através das manifestações psíquicas (os sonhos, atos falhos, chistes, lapsos de memória) e pelas próprias palavras, as causas do sofrimento e/ou mal-estar emocional dos sujeitos.
O psicanalista escuta e acolhe as diversas facetas das palavras, não ignorando o sem sentido, as contradições e inquietações do analisando, que levam àquilo que o habita nos tecidos mais íntimos, por mais sórdido que seja. A escuta psicanalítica tem uma ética própria, portanto, não sucumbe a um ideal de felicidade e nem é pautada na moral e na religião.
Entretanto, quem busca um tratamento de psicoterapia ou uma psicanálise acredita (pelo menos no início) que o(a) profissional da escuta irá garantir-lhe respostas e apaziguara seu sofrimento em algumas sessões. Porém, não é esse o objetivo e nem acontece dessa forma um tratamento ‘psi’, pelo menos não em um processo de análise.
De fato, o sofrimento é algo que tentamos eliminar a todo e qualquer custo, visto que causa desconforto, mas é impossível expulsar uma coisa que não temos a menor ideia do que é. Em análise, primeiro é preciso reconhecer o agente causa-dor do sofrimento, para depois decidir o que se fazer com isso.
O sintoma para a psicanálise é a matéria-prima do trabalho, é preciso lapidá-lo para encontrarmos os paradoxos do sofrimento, as causas de nossa existência, e o reconhecimento da falta. O sintoma não é só expressão de uma doença, mas também uma marca de nossa subjetividade. Uma psicanálise, assim, possibilita a cada sujeito em questão, ler seu próprio sintoma, revisitar sua história e escrever de outra forma seu sintoma – em outras palavras, escrevê-lo em nome próprio.
Então, retomando a pergunta inicial, a psicanálise não serve para nada, pois não impõe nenhuma tarefa ao paciente, não “corrige” comportamentos e nem garante sucesso ou felicidade. Com o sintoma, aprendemos a fazer algo artesanal, extraindo dele nosso desejo mais singular. Logo, cada um deve (re)inventar a seu próprio modo uma solução para a vida. Aos corajosos, boa viagem!
Na psicanálise, tratamento e pesquisa coincidem.
Freud, 1912, em “Recomendações ao médico que pratica a psicanálise”.





Obrigada pelo esclarecimento. Muito pontual. Nosso inconsciente nos pega qnd não identificamos a raiz. Seja por medo, vergonha...Bom saber que existe esperança.