O sintoma: uma questão de leitura
- Circular Psicanálise

- 4 de fev.
- 2 min de leitura
Por: Lucas Nogueira
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O que se chama de sintoma no campo da medicina não tem a mesma significação ou valor para a psicanálise, isso porque os sintomas de um sujeito se referem ou são tratados como expressões de uma doença, um indicativo de que algo não vai bem no corpo. É verdade que os sintomas podem sinalizar uma enfermidade biológica, porém não se reduzem apenas a isso.
Os sintomas para a psicanálise são expressões simbólicas, construtos subjetivos que condizem com a forma que cada indivíduo expressa sua maneira de sentir, viver e existir, sendo assim, o que importa à teoria psicanalítica, é a dimensão do sintoma na relação que ele guarda com a singularidade de uma pessoa, para além do seu sentido no senso comum.
Dizemos que o sintoma é uma das formações do inconsciente, assim como os sonhos, os lapsos, os equívocos na fala, as superstições e os chistes que se encontram no cotidiano da vida de qualquer pessoa. É assim, portanto, que os sintomas podem ser lidos, uma vez que evidenciam pela linguagem algo que foge do domínio da consciência e que insiste em ser dito mesmo à revelia de uma pessoa.
Lacan em “A instância da letra no inconsciente ou a razão desde Freud” desenvolve o conceito de letra apontando-o como aquilo que dá suporte material ao significante, que se expressa e pode ser localizável nas palavras, onde são compostas as formações do inconsciente. Por isso, na medida em que o inconsciente se escreve na e pela linguagem do sujeito, a letra pode ser lida em suas formulações (Lacan, 1998).
Desse modo, a incidência da letra é provocada pelas próprias palavras de um sujeito em análise, que ao serem pronunciadas, suscitam o texto inconsciente presente na linguagem. A letra, portanto, pode se expressar de várias formas, sendo uma palavra ou até mesmo uma frase gerada pelo efeito sonoro nas entrelinhas da fala de um sujeito no divã.
Por isso, é importante não compreendermos rápido demais, como nos ensina Lacan. As palavras num tratamento psicanalítico sempre dizem mais do que pretendem dizer, e o analista deve ler justamente o que se escreve dessas palavras, para além do seu sentido como signo linguístico. O que uma análise nos convida é isso: ir além do sentido.

O sintoma, dessa maneira, pode ser considerado uma forma de escrita, visto que esta permite revelar um texto inconsciente no tecido da palavra que insiste em ser lido, pois, se inscreve na linguagem e está na ponta da língua dos sujeitos que falam sobre seu sofrimento em suas análises. A leitura da letra, assim, pode causar ao sujeito movimento, deslocamentos, e novas versões sobre aquilo que outrora era apenas motivo de seu padecimento.
Referências:
LACAN, Jacques. A instância da letra no inconsciente ou a razão desde Freud. In: LACAN, Jacques. Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998a. p. 496-533
ROSSI, Andrea Silvana. Quando psicanalisar é ler. In: SANTOS, Renato dos et al (org.). Fenomenologia, Linguística & Psicanálise. Porto Alegre: Fi, 2019. p. 297-315.




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