Sobre soluções rápidas e invenções
- Circular Psicanálise

- 5 de mai.
- 2 min de leitura
Por: Lucas Nogueira
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Atualmente, percebemos uma grande maioria de pessoas, repleta de fórmulas rápidas para as mais diversas insatisfações na vida. Para isso, basta olharmos as redes sociais todos os dias, a cada rolada pela tela, nos deparamos com alguém tentando ensinar uma maneira de conseguirmos alcançar o sucesso, solucionar nossos problemas ou nos livrar da insatisfação de uma forma rápida.
São poucas as pessoas que têm o hábito de colocar em questão as coisas que ouvimos, lemos ou até assistimos pelas redes sociais. Sem haver qualquer raciocínio subjetivo, as coisas nas quais consumimos na internet, podem acabar gerando mais deveres e obrigações do que soluções, o que pode causar ainda mais insatisfação por termos tarefas e deveres a cumprir. O mesmo acontece quando pedimos a alguém um conselho, o que vem sempre como resposta do outro é um imperativo do tipo “se eu fosse você, eu faria...”.
O conselho, porém, é sempre baseado na perspectiva do outro, o que pode nos indicar que nem sempre o conselho seja fiel com aquilo que acreditamos, sentimos ou pensamos. Por isso, é importante tomar o conselho dos outros como um meio possível, mas não como a única solução. Ninguém melhor do que você mesmo, conhece sua história, sabe como é habitar seu corpo e seus desejos; então, como deixar-se alienar por uma solução que não foi você quem a inventou?
Diante de uma cultura sempre produtiva e veloz, qual o espaço que nos é ofertado para a invenção? Uma das coisas que Lacan nos ensina, quando ele menciona o savoir y faire (saber fazer com), é de que podemos aprender com nossos próprios fracassos e insatisfações, ou seja, de fazer algo com nosso pior. O saber fazer que “aprendemos” num tratamento psicanalítico, nada mais é do que saber inventar modos de avançar na vida.
Além disso, se pararmos para pensar, a vida não é uma coisa estática, sempre somos acometidos por mudanças, acasos, fatos imprevisíveis, doenças, etc. E tudo isso requer uma certa forma de agir, de pensar, de lidar, ou seja, de saber fazer com esse real que se impõe a todo instante. As insatisfações humanas, portanto, ensinam que aquilo que é da ordem do trágico é também o gérmen potente para as grandes transformações.

Os artistas, por exemplo, nos dão belos indicativos de que é possível desenvolvermos coisas grandiosas a partir de uma forte inclinação ao sofrimento. Que possamos aprender com nossos fracassos e tragédias; que sejamos criativos como os artistas, sujeitos que constroem meios de seguir apostando na obra da vida, mesmo a partir de grandes escombros subjetivos.
Referencias
LACAN, Jacques. O seminário, livro 23: o sinthoma (1975-1976). Rio de Janeiro: Zahar, 2007. Tradução: Sergio Laia; revisão André Telles




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